22.1.09

TIRANDO A HABILITAÇÃO – PARTE II

Depois das duas primeiras aulas deprimentes, naquele percurso de faixas e cones. Fui para o treino que imita o exame e tive que encarar a tábua.

A questão do nervosismo com a tábua? É que simplesmente em 13 aulas, eu deveria demonstrar perfeito equilíbrio em cima dela.

Lembra-se de quando você era criança e gostava de andar se equilibrando na sarjeta? Colocando um é diante do outro e abrindo os braços, se fosse necessário para te ajudar? De todas as vezes que eu fiz isso, nunca andei um percurso longo sem desequilibrar. E ainda hoje, quando tento, desequilibro. Você deve estar pensando: "Que neurótica! É claro que não dá pra comparar a largura de uma sarjeta com a de uma tábua?" O fato é que a idéia é a mesma, só que a ÚNICA diferença é que em cima de uma moto na qual não posso abrir os braços para ajudar a ter equilíbrio, já que a proporção entre o tamanho dos meus pés na sarjeta fica similar ao de uma moto em cima de uma tábua. Todos os instrutores que ficavam lá, olhando e tirando sarro, diziam que o segredo era olhar para o final dela. Mas tudo o que eu conseguia pensar era: "Eu não levo jeito pra isso, mas eu PRECISOOOOOOO desta carta."

Toda vez que chegava a minha vez eu respirava fundo, como a Hortência fazia antes dos seus preciosos arremessos de tiro livre, e iniciava o percurso. Um trecho, bem pequeno, reto, o zigue-zague entre os cones, outro trecho minúsculo reto para alinhar a moto no centro da tábua, subir, andar em cima dela, claro, até chegar na parte da curva fechada. A questão do equilíbrio me deixava nervosa. "Olha pro final, olha pro final" era tudo em que eu podia pensar e quando se pensa demais, paft, desconcentra-se e cai. Claro que na primeira vez não consegui terminar o trajeto, e voltei para o começo. E de novo, vamos lá, reto, cone e tábua. "Ah! Fora mais uma vez, que saco." Reiniciava. Fiquei diversas aulas nessa angústia, nervosismo e raiva de mim mesma, de fazer tempestade sobre algo tão simples.

Simples, se fosse simples, eu e meus colegas de percurso não ficaríamos tão ansiosos com aquela bendita tábua. E o tempo todo também pensava: "Não vou ter que andar em cima de um troço desses na rua nunca, que treino mais infeliz." Mas não podia desistir e toda semana era uma luta, para recomeçar. Até que finalmente, lá pela décima aula, eu consegui fazer o percurso, quase todo, com segurança, mas na tábua ainda vacilava.

Chegou um dia, que estava quase acreditando que não conseguiria que iria ter que fazer mais umas quinhentas aulas extras, para fazer o exame, que seria na próxima semana. Se vocês me vissem treinar, achariam que eu não faria mesmo. Apesar da dificuldade e do nervosismo, na quarta-feira que antecedia ao exame, fui para as últimas aulas e o último treino. Estava concentradíssima e disposta a vencer aquele desafio. Das dez voltas que dei naquele percurso, errei duas vezes, então me convenci que estava pronta. E concluí que tudo é uma questão de confiança e segurança. Mas diz aí, quem não fica nervoso em dia de avaliação? Tudo o que eu pensava era: "Nada que um bom suco de maracujá, uma boa noite de sono e um apagão sobre tábua não resolva. Exame me aguarde."


 


 

Um comentário:

  1. Estou tentando comentar, acho que pela 10ª vez! Me sinto a própria "lesada". Mas, minha cara "motoqueira sonhadora", estou amando teu blog. É delicioso ler seus textos. Continue escrevendo desta forma, bem descontraída, simples, verdadeira e divertida, porque é isto que precisamos no nosso dia a dia. Beijos, Deise

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